segunda-feira, 10 de abril de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

10/4  -  É preciso imitar Jesus!

domingo, 9 de abril de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

9/4  -  Encha o seu coração de confiança em Deus.

sábado, 8 de abril de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

46. Sábado santo: Utilidade da descida de Cristo aos infernos

Sábado santo

Da descida de Cristo aos infernos podemos tirar quatro ensinamentos para nossa instrução.
1. — Primeiro, uma firme esperança em Deus, pois quando quer que o homem esteja em aflição, deve sempre esperar do auxílio divino e nele confiar. Nada há de mais sério do que cair no inferno. Se portanto Cristo libertou os que estavam nos infernos, cada um, se é de fato amigo de Deus, deve muito confiar para que Ele o liberte de qualquer angústia. Lê-se: "Esta (isto é, a sabedoria) não abandonou o justo que foi vencido (...) desceu com ele na fossa, e na prisão o não abandonou" (Sb 10, 13-14). Como Deus auxilia aos seus servos de um modo todo especial, aquele que O serve deve estar sempre muito seguro. Lê-se: "O que teme ao Senhor por nada trepidará e nada temerá por que Ele é a sua esperança" (Ecl 39, 16).

2. — Segundo, devemos despertar em nós o temor, e de nós afastar a presunção. Pois, apesar de Cristo ter suportado a paixão pelos pecadores, e ter descido aos infernos, não libertou a todos, mas somente àqueles que estavam sem pecado mortal, como acima foi dito. Aqueles que morreram em pecado mortal, deixou-os abandonados. Por isso, ninguém que desça de lá com pecado mortal espere perdão. Mas ficarão no inferno o tempo em que os Santos Patriarcas estiverem no Paraíso, isto é, para toda a eternidade. Lê-se em São Mateus: "Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso" (Mt 25, 46).

3. — Terceiro, devemos viver atentos, porque se Cristo desceu aos infernos para a nossa salvação, também nós devemos com solicitude lá descer em espírito, meditando sobre às penas nele existentes, imitando o Santo Ezequias, que dizia: "Irão os malditos para o suplício eterno, os justos, porém, para o Paraíso" (Is 38, 10). Desse modo, aquele que em vida vai lá pela meditação, não descerá facilmente para o inferno na morte, porque essa meditação afasta do pecado. Aos vermos como os homens deste mundo evitam as más ações por temor das penas temporais, como não deveriam eles muito mais se resguardarem do pecado por causa das penas do inferno, que são muito mais longas, mais cruéis e mais numerosas? Eis porque lê-se nas Escrituras: "Lembra-te dos teus últimos dias, e não pecarás para sempre" (Ecl 7, 40).

4. — O quarto ensinamento tirado da descida de Cristo aos infernos, é nos ter Ele oferecido um exemplo de amor. Cristo desceu aos infernos para libertar os seus. Devemos também nós lá descer pela meditação, para auxiliar os nossos. Eles, por si mesmos, nada podem conseguir. Nós é que devemos ir em socorro dos que estão no purgatório. Se alguém não quisesse socorrer um ente querido que estivesse na prisão, como isso nos pareceria cruel! No entanto, seria muito mais cruel aquele que não viesse em socorro do amigo que está no purgatório, pois não há comparação entre as penas deste mundo e aquelas. Lê-se a esse respeito: "Tende piedade de mim, tende piedade de mim, pelo menos vós, ó meus amigos, porque a mão de Deus me socorre" (Jo 19, 21). — "É santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos para que sejam livres dos pecados" (Mc 19, 46). São auxiliados os que estão no purgatório principalmente por três atos, conforme disse Agostinho: pelas Missas, pelas orações e pelas esmolas. Gregório acrescenta um quarto: o jejum. Não deve causar admiração que assim seja, porque também neste mundo o amigo pode satisfazer pelo amigo. A mesma coisa acontece com os que estão no purgatório.
In Symb.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

8/4  -  Em cada evento aprenda a reconhecer e a adorar a vontade de Deus.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

45. Sexta-feira santa: A morte de Cristo *

Sexta-feira santa

Foi conveniente que Cristo morresse, pelas seguintes razões:
1. Para consumar a nossa redenção, pois, apesar da Paixão ter virtude infinita por causa da união da divindade, não foi durante um sofrimento qualquer que nossa redenção foi consumada, mas na morte de Cristo. Por isso diz o Espírito Santo pela boca de Caifás (Jo 11, 50): convém que morra um homem pelo povo. E santo Agostinho: Admiremos, congratulemo-nos, rejubilemo-nos, amemos, louvemos e adoremos, pois, pela morte de nosso redentor, fomos chamados das trevas à luz, da morte à vida, do exílio à pátria, do luto à alegria.

2. Para o aumento da fé, da esperança e da caridade. Quanto ao crescimento da fé, aquilo do salmista: quanto à mim, estou só até que eu passe, i. é, deste mundo ao Pai. Mas, quando tiver passado deste mundo ao Pai, então serei multiplicado. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só. Quanto ao crescimento da esperança, diz o Apóstolo (8, 32): O que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? É inegável que dar todas as coisas é ainda menos que entregar Cristo à morte por nós. São Bernardo diz: "Quem não se encherá da esperança de possuir confiança, se considerar a posição do corpo crucificado de Cristo? Sua cabeça inclinada, para dar-nos o ósculo da paz; seus braços estendidos, para nos abraçar; suas mãos traspassadas, para nos cumular de bens; seu coração aberto, para nos amar; seus pés cravados, para permanecer conosco". Lemos nas Escrituras (Ct 2, 14): "Pomba minha, tu que te recolhes nas aberturas da pedra". Nas chagas de Cristo, a Igreja estabeleceu e fez seu ninho, colocando a esperança de sua salvação na Paixão do Senhor; e assim protege-se das surpresas do falcão, i. é, do diabo. Quanto ao crescimento da caridade, aquilo das Escrituras (Ecle 43, 3): "Ao meio dia queima a terra". Ou seja, no fervor da Paixão, ardem de amor os corações terrestres. Diz ainda são Bernardo: "O cálice que bebestes, ó bom Jesus, mais que tudo, vos fez amável. A obra de nossa redenção reivindica absoluta e prontamente todo nosso amor para si; ela faz agradável a devoção, torna-a mais justa, une-nos mais estreitamente e com maior veemência nos toca o coração."

3. Por causa do sacramento da nossa salvação, para que, pelo exemplo de sua morte, morrêssemos para este mundo. "Por isso a minha alma prefere a suspensão, os meus ossos preferem a morte" (Jó 7, 15). E são Gregório comenta: "A alma é a intenção do espírito, os ossos são a força da carne. O que está suspenso, foi erguido do chão. A alma, portanto, foi erguida às coisas da eternidade, para que morram os ossos, pois o amor da vida eterna destrói em nós toda a força da vida exterior". Ser desprezado pelo mundo é o sinal desta morte. São Gregório acrescenta: "o mar retém os corpos viventes, mas rejeita os cadáveres".
De humanit. Christi
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

7/4  -  Esforce-se em unir a prudência dos adultos com a simplicidade das crianças.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

6/4  -  Evite palavras que geram discórdia.

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

44. Quinta-feira santa: A ceia do Senhor *

Quinta-feira santa

O Sacramento do Corpo do Senhor foi convenientemente instituído na Última Ceia, e isso por três razões:
1. Em razão daquilo que este sacramento contém: ou seja, o próprio Cristo. No momento de deixar os discípulos em sua própria figura, Ele permanece com eles sob a forma sacramental, assim como, na ausência do imperador, exibe-se a sua imagem. Daí o dizer Eusébio: "Como o corpo que assumira havia de ser retirado da nossa visão corporal e elevado ao céu, era preciso que, na Ultima Ceia, Ele consagrasse para nós o sacramento de seu corpo e de seu sangue, afim de que pudéssemos continuar a adorar no mistério o que uma vez ofereceu para nosso resgate".

2. Pois, sem a fé na Paixão, não pode haver salvação. Era pois preciso que sempre houvesse entre os homens algum sinal que representasse a Paixão do Senhor, que, na antiga lei, era principalmente representada pelo Cordeiro Pascal. No Novo Testamento, o Cordeiro pascal foi sucedido pelo sacramento da Eucaristia, que é um memorial da Paixão realizada no passado; assim como o Cordeiro era figurativo da Paixão que ocorreria no futuro. Era portanto conveniente que, nas vésperas da Paixão, após ter celebrado o sacramento anterior, fosse instituído o novo.

3. Pois, quando os amigos se separam, suas últimas palavras são guardadas com mais zelo pela lembrança. Sobretudo, porque o sentimento de afeição por eles é então mais ardente; e as coisas que mais nos tocam mais profundamente se imprimem na alma. Ora, entre os sacrifícios, nenhum poderia ser maior que o do corpo e sangue de Nosso Senhor, e nenhum dom poderia ser maior que este; por isso, para que fosse tido com maior estima, o Senhor instituiu este sacramento no momento de deixar seus discípulos. Por isso disse Agostinho: o Salvador, para recomendar com maior veemência a grandeza deste mistério, quis imprimi-lo por último nos corações e na memória dos seus discípulos, os quais havia de deixar na sua Paixão.
Devemos notar que este sacramento possui uma tripla significação:
1. Quanto ao passado, enquanto é comemorativo da Paixão do Senhor, que foi um verdadeiro sacrifício, este sacramento é chamado sacrifício.

2. Quanto ao presente, i. é, à unidade da Igreja, e para que os homens se congreguem por este sacramento, é ele chamado comunhão. São João Damasceno diz que o chamamos comunhão posto que, por ele, comungamos com Cristo, participamos da sua carne e divindade e, por Ele, comungamos e nos unimos uns aos outros.

3. Quanto ao futuro, enquanto prefigura o gozo de Deus que existirá na pátria, este sacramento é chamado viático, posto que nos apresenta o caminho para lá chegarmos. Sob este aspecto, também é chamado Eucaristia, que quer dizer "boa graça", pois a graça de Deus é a vida eterna; ou porque contém realmente o Cristo que é a mesma plenitude da graça. Em grego, é chamado metalipsis, i. é, consumição, pois por ele tomamos a divindade do Filho de Deus.
De Humanitate Christi
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

5/4  -  Faça com resolução o propósito de não mais pecar.

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

43. Quarta-feira santa: Três ensinamentos místicos no Lava-Pés

Quarta-feira santa

"Depois lançou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a limpar-lhos com a toalha com que estava cingido" (Jo 13, 5)
Nesta passagem podemos tirar três ensinamentos místicos:
1. A água que lançou numa bacia significa a efusão de seu sangue na terra. Com efeito, o sangue de Jesus pode ser chamado água, pois tem poder para lavar. E foi por isso que, na cruz, saiu de seu lado traspassado sangue e água, para dar a compreender que seu sangue tem poder para lavar os pecados. Também podemos compreender, pela água, a Paixão de Cristo. "lançou água numa bacia", i. é, imprimiu a memória da sua Paixão nas almas dos fiéis pela fé e pela devoção. "Lembra-te da minha pobreza e tribulação - absinto e fel que me fazem beber" (Lm 3, 19).

2. Ao dizer "começou a lavar os pés dos discípulos", faz alusão à imperfeição humana; pois os Apóstolos, depois de Cristo, eram os mais perfeitos e, no entanto, precisavam ser purificados, pois tinham algumas impurezas. Isso nos mostra que o homem, por melhor que seja, tem necessidade de se aperfeiçoar; e que contrai algumas manchas, conforme aquilo dos Provérbios (20, 9): "Quem pode dizer: O meu coração está puro, estou limpo do pecado?". Contudo, estão sujos apenas nos pés. Outros, ao contrário, não estão sujos apenas nos pés, estão totalmente sujos. Ora, os que jazem no chão sujam-se totalmente com as imundices da terra. Do mesmo modo, sujam-se totalmente os que se apegam totalmente às coisas da terra, já pelo sentimento, já pelos sentidos. Mas os que estão de pé, ou seja, os que buscam as coisas céu com o espírito e o coração, estão sujos apenas nos pés. Ora, assim como o homem de pé precisa ao menos tocar a terra com os pés para sustentar-se, nós, enquanto vivermos nessa vida mortal, que precisa das coisas terrestres para o sustento do corpo, contraímos algumas manchas, ao menos pelos sentidos. Por isso o Senhor recomenda aos discípulos sacudir o pó dos seus pés (Lc 9, 5). Diz o Evangelho: "começou a lavar", pois a ablução dos afetos terrenos começa aqui embaixo, e é consumada no futuro. Assim, a efusão de seu sangue é significada pelo ter vertido a água numa bacia; e a ablução de nossos pecados, pelo ter começado a lavar os pés dos discípulos.

3. Finalmente, vê-se a aceitação de nossas penas sobre ele mesmo. Cristo não apenas limpou nossas manchas, mas tomou sobre si mesmo as penas incorridas pelas nossas faltas. Nossas penas e nossa penitência seriam insuficientes, se não tivessem por fundamento o mérito e a eficácia da Paixão de Cristo. O que é significado pelo ter secado os pés dos discípulos com um linho, i. é, o linho de seu corpo.
In Joan XIII.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

terça-feira, 4 de abril de 2023

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XVI

Morte de Jesus

Avizinha-se, porém, o fim da vida de nosso amável Redentor. Minha alma, contempla esses olhos que se obscurecem, essa bela face que empalidece, esse coração que palpita lentamente, esse sagrado corpo que vai se tornando presa de morte. “Tendo, Jesus experimentado o vinagre, disse: Tudo está consumado”. (Jo 19,30). Estando Jesus para expirar, pôs diante todos os sofrimentos de sua vida, pobreza, suores, penas e injúrias suportadas e, oferecendo tudo novamente a seu terno Pai, disse: Tudo está cumprido, tudo está realizado. Realizou-se tudo o que fora predito de mim pelos profetas e está consumado inteiramente o sacrifício que Deus espera para perdoar o mundo, e a justiça divina já está plenamente satisfeita. Tudo está consumado, disse Jesus voltado para seu Pai; tudo está consumado, disse ao mesmo tempo, voltado para nós, como se afirmasse: Ó homens, acabei de fazer tudo que eu podia fazer para salvar-vos e conquistar o vosso amor; fiz o que me competia, fazei agora o que vos compete: amai-me e não desdenheis amar um Deus que chegou a morrer por vós. Ah, meu Salvador, pudesse também eu dizer no momento de minha morte, ao menos no referente à vida que me resta: tudo está consumado: Senhor, eu cumpri com a vossa vontade, eu vos obedeci em tudo. Dai-me força, meu Jesus, pois eu espero e proponho realizar tudo com o vosso auxílio.

“E clamando com voz forte, Jesus disse: Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito” (Lc 23,46). Foi essa a última palavra que Jesus disse na cruz. Vendo que sua alma estava prestar a separar-se de seu corpo dilacerado, disse todo resignado na vontade divina e com confiança de Filho: “Pai, eu vos recomendo o meu espírito, como se dissesse: Meu Pai, eu não tenho vontade própria, não quero nem viver nem morrer; se vos apraz que eu continue a padecer nesta cruz, eis-me aqui, estou pronto; nas vossas mãos entrego o meu espírito, fazei de mim o que vos aprouver”. Oh! se assim disséssemos também, quando estamos sobre a cruz, e nos deixássemos guiar em tudo pelo beneplácito do Senhor! É este, segundo S. Francisco de Sales, aquele abandono em Deus que constitui toda a nossa perfeição. É isso o que devemos fazer, principalmente no momento da morte, mas, para fazê-lo bem, então, é preciso fazê-lo continuamente durante toda a vida. Sim, meu Jesus, nas vossas mãos entrego a minha vida e a minha morte; abandono-me inteiramente a vós e desde já vos recomendo no fim de minha vida a minha alma: acolhei-a nas vossa santas chagas como vosso Pai acolheu vosso espírito quando morrestes na cruz.

Mas eis que Jesus expira. Vinde, anjos do céu, vinde assistir à morte de vosso Deus. E vós, ó Mãe das dores, Maria, chegai-vos mais à cruz, levantai os olhos para vosso Filho e olhai-o mais atentamente, pois está prestes a expirar. Eis que o Redentor já chama a morte e lhe dá licença para se apoderar dele: Vem, ó morte, diz-lhe, depressa, faze o teu dever, tira-me a vida e salva as minhas ovelhas. A terra treme, abrem-se os sepulcros, rasga-se o véu do templo. Pela violência das dores faltam já as forças ao Senhor, falta-lhe o calor natural, falta-lhe a respiração a ele com o corpo largado abaixo, a cabeça sobre o peito, abre a boca e expira. “E tendo inclinado a cabeça, entregou seu espírito” (Jo 19,30).

Sai, ó bela alma de meu Salvador, sai e vem abrir-nos o paraíso até agora fechado para nós; vai apresentar-te à majestade divina e impetrar-nos o perdão e a salvação. O povo alvoroçado em volta de Jesus, por causa do grande brado com que havia proferido as últimas palavras, contempla-o com atenção, em silêncio, vê-o expirar e, observando que não faz mais movimento, exclama: Morreu, morreu. Assim ouve Maria todos falarem e ela também diz: Morreu meu Filho! Morreu! Ó Deus, quem morreu? O autor da vida, o Unigênito de Deus, o Senhor do mundo. Ó morte, que causastes a admiração do céu e da natureza. Um Deus morrer por suas criaturas! Ó caridade infinita! Um Deus sacrificar-se todo, seus prazeres, sua honra, seu sangue, sua vida, por quem? Por criaturas ingratas, e morrer num mar de dores e de desprezos para pagar as nossas culpas.

Minha alma, levanta os olhos e contempla esse homem crucificado. Contempla esse cordeiro divino já sacrificado nesse altar de dores, reflete que ele é o Filho bem amado do Padre eterno e que ele morreu pelo amor que te consagrava. Vê como tem os braços estendidos para acolher-te, a cabeça inclinada para dar-te o beijo de paz, o peito aberto para receber-te. Que dizes? Não merece ser amado um Deus tão bom e tão amoroso? Ouve o que te diz o teu Senhor de sua cruz: Filho, vê se há no mundo quem te haja amado mais do que eu, teu Deus. Ah, meu Deus e meu Redentor, morrestes, pois, e suportastes a mais infame e dolorosa das mortes. E por quê? Para conquistar o meu amor. Como, porém, poderá o amor de uma criatura compensar o amor de seu Criador morto por ela? Ó meu adorado Jesus, ó amor de minha alma, como poderei amar outra coisa, depois de vos saber morto de dores nessa cruz, para pagar pelos meus pecados e salvar-me? Como poderei ver-nos morto e pendente desse lenho e não vos amar com todas as minhas forças? Poderei pensar que minhas culpas vos reduziram a esse estado e não chorar sempre com suma dor as ofensas cometidas contra vós?

Ó Deus, se o mais vil dos homens tivesse padecido por mim o que sofreu Jesus Cristo, se eu visse um homem dilacerado pelos açoites, pregado a uma cruz e feito o ludíbrio do povo para me salvar a vida, poderia recordar-me disso sem me enternecer? E se me apresentassem seu retrato, morrendo na cruz, poderia eu olhá-lo com indiferença e deixar de exclamar: Oh! este infeliz morreu assim atormentado por meu amor; se não me tivesse amado, não teria padecido a morte. Oh! quantos cristãos possuem um belo crucifixo no seu quarto, mas unicamente como um belo ornamento: louvam a obra e a expressão da dor, mas seu coração nada ou pouco sente, como se não fosse a imagem do Verbo encarnado, mas de um estranho e desconhecido.

Ah, meu Jesus, não permitais que eu seja um desses. Recordai-vos que prometestes atrair a vós todos os corações, quando fôsseis suspenso na cruz. Eis o meu coração, que, enternecido coma vossa morte, não quer resistir mais aos vossos convites; atraí-o, pois, todo inteiro ao vosso amor. Vós morrestes por mim e eu não quero viver senão para vós. Ó dores de Jesus, ó ignomínias de Jesus, ó morte de Jesus, ó amor de Jesus, fixai-vos em meu coração e aí permaneça sempre a vossa doce memória, para ferir-me continuamente e inflamar-me de amor.

Ó Padre eterno, vede Jesus morto por mim e, pelos merecimentos desse Filho, usai de misericórdia comigo. Minha alma, não percas a confiança por causa dos delitos cometidos contra Deus: esse Pai é o mesmo que o deu ao mundo para nossa salvação; e esse Filho é o mesmíssimo que voluntariamente se ofereceu a pagar por nossos pecados. Ah, meu Jesus, desde que vós não vos perdoastes para perdoar a mim, olhai-me com aquele mesmo afeto com que me olhastes uma vez quando agonizáveis na cruz. Olhai-me e iluminai-me, perdoai-me especialmente as ingratidões que vos mostrei no passado, pensando tão pouco na vossa paixão e no amor que nela me mostrastes. Agradeço-vos a luz que me concedeis, fazendo-me conhecer, por meio de vossas chagas e membros lacerados, como por meio de outros tantos degraus, o terno afeto que me tendes.

Infeliz de mim se, depois dessa luz, eu deixasse de amar-vos ou amasse outra coisa afora vós. Morra eu por amor de vosso amor, que por amor de meu amor vos dignastes morrer, vos direi com S. Francisco de Assis. Ó coração aberto de meu Redentor, ó morada bem-aventurada das almas amantes, não vos dedigneis de receber também a minha alma. Ó Maria, ó Mãe das dores, recomendai-me a vosso Filho, que tendes morto entre vossos braços. Contemplai suas carnes dilaceradas, contemplai seu sangue divino derramado por mim e concluí daí quanto lhe é agradável que vós lhe recomendeis a minha salvação. A minha salvação é amá-lo e vós deveis alcançar-me este amor, mas um grande amor, um amor eterno.

S. Francisco de Sales, falando daquele dito de S. Paulo: A caridade de Cristo nos impele, diz: “Sendo do nosso conhecimento que Jesus, verdadeiro Deus, nos amou até sofrer por nós a morte da cruz, não é isso ter os nossos corações sob uma prensa e sentir comprimi-los com violência para espremer deles o amor com força tanto maior, quanto ela é mais amável?” O monte Calvário, segundo ele, é o monte dos amantes. E ajunta: “Ah, por que não nos lançamos sobre Jesus crucificado, para morrer na cruz com ele, que quis morrer por amor de nós? Eu o prenderei, devemos dizer, e não o abandonarei jamais; morreria com ele e me abrasarei nas chamas de seu amor. Um só fogo consumirá esse divino Criador e a sua miserável criatura. O meu Jesus se dá todo a mim e eu me dou todo a ele. Eu viverei e morrerei sobre seu peito; nem a morte nem a vida me separarão jamais dele. Ó amor eterno, minha alma vos busca e vos elege eternamente. Vinde, Espírito Santo, e inflamai os nossos corações com o vosso amor. Ou amar ou morrer. Morrer a todo outro amor para viver do de Jesus. Ó Salvador de nossas almas, fazei que cantemos eternamente: Viva Jesus. Eu amo Jesus. Viva Jesus, que eu amo. Amo Jesus, que vive nos séculos dos séculos”.

Concluamos, dizendo: Ó Cordeiro divino, que vos sacrificastes por nossa salvação! Ó vítima de amor, que fostes consumida de dores sobre a cruz! Oh! soubesse eu amar-vos como vós o mereceis. Oh! pudesse eu morrer por vós, como vós morrestes por mim! Eu, com os meus pecados, vos causei sofrimentos durante toda a vossa vida; fazei que eu vos agrade no resto de minha vida, vivendo só para vós, meu amor, meu tudo. Ó Maria, minha Mãe, vós sois a minha esperança; obtende-me a graça de amar a Jesus.

Fim do I Volume

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

4/4  -  Fixe o horário da sua meditação sobre a Palavra de Deus, marque a duração da sua meditação, e não saia do lugar até terminá-la.

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

42. Terça-feira santa: Preparação de Cristo ao Lava-Pés

Terça-feira santa

"levantou-se da ceia e depôs o seu manto, e, pegando numa toalha, cingiu-se com ela." (Jo 13, 4)
I. — Cristo mostra-se servidor, abraçando uma tarefa humilde, conforme aquilo do Evangelho (Mt 20, 28): "o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir". Três coisas fazem o bom servidor:

1. Que seja circunspeto, para enxergar tudo o que seu serviço demanda. Isso certamente não se daria se o servidor estivesse sentado ou deitado. A atitude própria do servidor é a de permanecer de pé, por isso Cristo "levantou-se da ceia". "Qual é o maior, o que está à mesa, ou o que serve?" (Lc 22, 27)

2. Que se desembarace de tudo, afim de poder cumprir apropriadamente o seu serviço, o que seria muito dificultado pela multidão do vestuário. É por isso que o Senhor depôs o seu manto. Isso está figurado no livro do Gênesis (17) quando Abraão escolhe os escravos mais desimpedidos.

3. Que esteja pronto a servir, ou seja, que tenha tudo o que é necessário para o seu serviço. De Marta lemos no Evangelho (Lc 10, 40),afadigava-se muito na continua lida da casa. Por isso o Senhor pegando numa toalha, cingiu-se com ela, para estar pronto, não somente para lavar os pés, mas para secá-los. Que nós saibamos calcar os pés sobre nosso orgulho, pois aquele que veio de Deus e a ele vai, lavou os pés.

II. — "Depois lançou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos". Eis o serviço do Cristo, no qual de três modos sobressalta a sua humildade:

1. Quanto ao gênero do serviço, que é bastante humilde: é o Deus de Majestade que se inclina para lavar os pés aos servidores.

2. Quanto à multidão dos serviços, pois ele derrama a água, lava os pés, seca etc.

3. Quanto à maneira de proceder, pois não o fez por meio de outros, nem com assistentes, mas sozinho. "Quanto maior és, mais te deves humilhar em todas as coisas" (Ecl 3, 20).
In Joan., XIII
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

41. Segunda-feira santa: Necessidade de uma perfeita purificação

segunda-feira santa

I. — "Se eu não os lavar, não terás parte comigo". Ninguém pode ser coherdeiro de Cristo e participar da herança eterna sem se purificar espiritualmente, como está dito nas Escrituras: (Ap 21, 27), "não entrará nela coisa alguma contaminada" e "quem estará no seu lugar santo? O inocente de mãos e limpo de coração" (Sl 23, 3-4). É como se Nosso Senhor dissesse: Se eu não os lavar, não estarás puro, e se não estiveres puro, não terás parte comigo.

II. — "Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça".Conturbado, Pedro oferece-se todo para a ablução, cheio de amor e temor. Como se lê no Itinerário de S. Clemente, Pedro estava a tal ponto ligado à presença corporal de Cristo, que com tanto fervor amava, que, após a Ascensão, ao lembrar-se da doçura extrema da sua presença e da santidade de sua vida, arrebentava em lágrimas, ao ponto de suas pálpebras parecerem queimadas. Todo homem possui três coisas: a cabeça, no topo; os pés, embaixo; as mãos, no meio. Do mesmo modo, o homem interior, ou a alma: a cabeça é a razão superior, pela qual o homem adere a Deus; as mãos são a razão inferior, com a qual o homem se dedica à vida ativa; os pés são a sensualidade. O Senhor, porém, sabia que os discípulos estavam puros quanto à cabeça, pois estavam unidos a Deus pela fé e caridade; puros também quanto às mãos, pois suas obras eram santas. Quanto aos pés, tinham alguns apegos terrestres, por sensualidade. Pedro, porém, temendo a ameaça de Cristo, consente, não apenas na ablução dos pés, mas ainda das mãos e da cabeça: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça". É como se dissesse: ignoro se estão sujas minhas mãos e cabeça; de nada me sinto culpado, mas nem por isso me dou por justificado (1 Cor 4, 4). Por isso, estou pronto para purificar não somente os meus pés, i. é, dos apegos inferiores, mas também as mãos, i. é, as obras e a
cabeça, i. é, a razão superior.

III. — Jesus lhe diz: Aquele que se lavou não tem necessidade de lavar senão os pés, pois todo ele está limpo. Diz Orígenes que eles estavam limpos, mas que ainda precisavam de uma purificação maior, pois a razão deve sempre aspirar aos dons mais perfeitos, subir ao cume das virtudes e resplender com
o alvor da justiça. "aquele que é santo, santifique-se mais" (Ap 22, 11).
In Joan., XIII
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

 3/4  -  Há pessoas tão tolas que pensam poder passar a vida sem o auxílio de Nossa Senhora!

domingo, 2 de abril de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

40. Domingo de Ramos: Utilidade da Paixão de Cristo como exemplo

Domingo de Ramos

Como disse S. Agostinho: "A Paixão de Cristo é suficiente para ser modelo de toda a nossa vida". Quem quer que queira ser perfeito na vida, nada mais é necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na cruz, e desejar o que nela Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na cruz. Se nelas buscas um exemplo de caridade, "ninguém tem maior caridade do que aquele que dá sua vida pelos amigos" (Jo 15, 13). Ora, foi o que Cristo fez na cruz. Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos deve ser pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele. "O que retribuirei ao Senhor, por todas as coisas que Ele me deu?" (Ps. 115, 12). Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela encontrarás uma imensa paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois modos: ou quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar. Cristo na cruz suportou grandes sofrimentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho parai e vede se há dor igual à minha!" (Lm 1, 17), e os suportou pacientemente, "como a ovelha levada para o matadouro e como o cordeiro silencioso na tosquia" (1 Pd 2, 23). Cristo na cruz suportou também os males que poderia ter evitado, mas não os evitou: "Julgais que não posso rogar a meu Pai e que Ele logo não me envie mais que doze legiões de Anjos?" (Mt 26, 53). Realmente, a paciência de Cristo na cruz foi imensa! "Corramos com paciência para o combate que nos espera, com os olhos fitos em Jesus, o autor da nossa fé, que a levará ao termo: Ele que, lhe tendo sido oferecida a alegria, suportou a cruz sem levar em consideração a sua humilhação" (Heb 36, 17). Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te olhar para o crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: "A vossa causa, Senhor, foi julgada como a de um ímpio" (Jo 36, 17). Sim, de um ímpio, porque disseram: "Condenemo-lo a uma morte muito vergonhosa" (Sb 2, 20). O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida aos Anjos, pelo homem: "Fez-se obediente até à morte" (Fl 2, 8) Se queres na cruz um exemplo de obediência, segue Àquele que se fez obediente ao pai, até à morte: "Assim como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores; também pela obediência de um só homem, muitos se tornaram justos" (Rm 5, 19). Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das coisas terrenas, segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores no qual estão os tesouros da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado, escarrado, flagelado, coroado de espinhos, na sede saciado com fel e vinagre e morto. Não deves te apegar às vestes e às riquezas, "porque dividiram entre si as minhas vestes" (Sl 29, 19); nem às honras, porque "Eu suportei as zombarias e os açoites"; nem às dignidades, porque "puseram em minha cabeça uma coroa de espinhos que trançaram"; nem às delícias, porque "na minha sede deram me vinagre para beber" (Sl 68, 22)
In Symb.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

 2/4  -  Jesus fez tudo por amor e nos convida a amar.

sábado, 1 de abril de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

39. Sábado depois do I domingo da Paixão: De que modo devemos lavar os pés uns dos outros?

sábado da I semana da Paixão

"Se eu, pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 14)
Nosso Senhor quer que seu exemplo seja imitado pelos discípulos. Ele diz: "Se eu", que sou maior que vós, pois sou Senhor e Mestre, "vos lavei os pés, também vós", por muito maior razão, pois sois discípulos e servos, "deveis lavar os pés uns aos outros". Noutra parte, lemos (Mt 20, 26): "todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo... assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir".
Segundo Agostinho, todo homem deve lavar os pés aos outros já corporalmente, já espiritualmente. É muito melhor e sem dúvida mais verdadeiro lavar os pés realmente; que os cristãos não desdenhem fazer o que o próprio Cristo fez: quando o corpo se inclina para os pés de um irmão, o sentimento de benevolência se ascende em seu coração. E se já se possuía este sentimento, ele é confirmado. Porém, se não lavamos realmente os pés uns aos outros, façamo-lo ao menos no coração. Ora, pelo lava-pés devemos entender a limpeza das faltas. Assim, portanto, lavemos espiritualmente os pés de nossos irmãos e, de todo coração, lavemos suas manchas. Ora, isto se faz de três modos:
1. Perdoando suas ofensas, segundo aquilo do Apóstolo (Cl 3, 13): "se algum tem razão de queixa contra o outros: assim como o Senhor vos perdoou a vós, assim também vós deveis perdoar aos outros."

2. Rezando pelos seus pecados: "orai uns pelos outros, para serdes salvos" (Tg 5, 16).

3. O terceiro modo diz respeito aos prelados, que devem lavar os pés perdoando os pecados com a autoridade das chaves, conforme o Evangelho (Jo 20, 22): "Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados." Podemos ainda dizer que, pelo lava-pés, o Senhor nos mostra todas as obras de misericórdia. Pois, quem dá o pão a quem tem fome, lava-lhe os pés; do mesmo modo, quem acolhe os viajantes, veste os nus e assim por diante, "tomando parte nas necessidades dos santos" (Rm 12, 13).
In Joan., XIII..
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

1/4  -  Jesus, torna-me mais forte. Pega meu coração e o preencha com Teu amor. Depois, pede-me o que quiseres.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

38. Sexta-feira depois do I domingo da Paixão: A compaixão de Nossa Senhora

sexta-feira da I semana da Paixão

"E uma espada trespassará a tua alma" (Lc 2, 35)
Estas palavras assinalam a grande compaixão de Nossa Senhora pelo Cristo.
Quatro coisas tornaram a Paixão de Cristo sobretudo amargas à mãe de Cristo:
1. A bondade de seu Filho: "ele não cometeu pecado, nem se encontrou engano na sua boca" (1 Pd 2, 22);

2. A crueldade dos verdugos, que se evidencia ao terem se recusado a dar-lhe água na sua agonia e impedido que lho desse sua mãe, que diligentemente daria.

3. A ignomínia do suplício. "Condenemo-lo a uma morte infame", diz o livro da Sabedoria (2, 20).

4. A atrocidade dos tormentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à dor que me atormenta"(Lm 1, 12).
Serm. Quanto às palavras do velho Simeão: "uma espada trespassará a tua alma", Orígines e outros doutores as aplicam à dor sofrida por Cristo na Paixão. Quanto a Ambrósio, pela espada entende significar a prudência de Maria, não ignorante do mistério celeste. Pois, vivo é o verbo de Deus, válido e mais agudo que toda espada de dois gumes. Outros, porém, entendem por isso a espada da dúvida, não devendo, porém, entender-se por esta uma dúvida culpável contra a fé, mas a da admiração e da discussão. Assim diz Basílio: a Santa Virgem, aos pés da cruz e presenciando tudo o que se passou, depois mesmo do testemunho de Gabriel, depois do inefável conhecimento da divina concepção, depois da ingente realização dos milagres, flutuava na sua alma, vendo, de um lado, as humilhações que sofria seu Filho e, de outro, as maravilhas que realizava. IIIa q. XXVII, a. IV, 2um
Mesmo sabendo pela fé que Deus queria que Cristo sofresse, e ainda que conformasse sua vontade à vontade divina quanto à coisa desejada, como fazem os perfeitos, a Virgem Maria se entristecia pela morte de Cristo, enquanto sua vontade inferior repugnava esta coisa particularmente desejada; e isto não é contrário à perfeição.
1 Dist. 48, q. única, a. III
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 31  -  Jesus nos concede favores porque é bom e porque nos ama, não porque merecemos.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

37. Quinta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sinal maior do amor de Cristo

quinta-feira da I semana da Paixão

Aparentemente, a maior prova do amor de Cristo por nós foi o ter dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós, pois a caridade da Pátria é mais perfeita que a caridade da Via. Ora, este benefício com que Deus nos agraciou, ao nos dar seu corpo como alimento, é mais similar à caridade da Pátria, onde gozaremos plenamente de Deus, enquanto a Paixão a que Cristo se submeteu mais se assemelha à caridade da Via, onde nos expomos a morrer por Cristo. Assim, pois, a maior prova de amor de Cristo seria o ter nos dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós. Contudo, lemos no Evangelho (Jo 15, 13): "Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos".

Solução: No que diz respeito ao amor humano, nada ultrapassa o amor com que nos amamos a nós mesmos, por isso este amor é a medida de todo amor que sentimos pelos demais. Ora, o característico do amor com que nos amamos a nós mesmos, é o querer o bem a nós mesmos. Portanto, o amor ao próximo será tanto mais evidente quanto mais preterirmos em seu proveito o bem que desejamos para nós, como aquilo das Escrituras (Pr 12, 26): "Aquele que por amor do seu amigo não repara em sofrer alguma perda, é justo". Ora, o homem quer para si mesmo um triplo bem particular: sua alma, seu corpo, os bens exteriores. Suportar algum prejuízo nos bens exteriores por causa de outrem é sinal de amor. Sofrer corporalmente por outrem, em trabalhos ou agressões, é sinal ainda maior de amor. Contudo, abandonar sua alma e morrer pelo amigo, eis o sinal máximo de amor. Assim, ao sofrer e morrer por nós, Cristo nos deu a maior prova de seu amor. Ao nos dar seu próprio corpo como alimento, o fez sem nenhum detrimento próprio. A Paixão é a maior prova do amor de Deus. Por isso a Eucaristia é memorial e figura da Paixão de Cristo. Ora, a verdade se superpõe à figura e a realidade, ao memorial. A produção do corpo de Cristo no Santo Sacramento é figura do amor com que Deus nos ama na Pátria; mas a Paixão de Cristo pertence ao amor mesmo de Deus, que nos tirou da perdição para nos levar a si. O amor de Deus não é maior no céu que no presente.
Quodl. V, q. III, a. II.

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

 Dia 30  -  Lembre-se de que não se vence batalhas sem a oração.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

36. Quarta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sepulcro Espiritual *

quarta-feira da I semana da Paixão

A contemplação das coisas celestes é representada pelo sepulcro. Por isso, sobre a passagem das Escrituras (Jó 3, 22): "e ficam transportados de alegria, quando encontram o sepulcro?", comenta são Gregório: na contemplação das coisas divinas, a alma, morta para o mundo, esconde-se como um corpo na sepultura e, longe de toda inquietação do século, repousa por três dias como que por uma tripla imersão. Os atribulados e vexados pelos insultos dos homens, ao entrar em espírito na presença de Deus, não mais se sentem atribulados, conforme aquilo do salmista (Sl 30, 21): "Sob a proteção do teu rosto os defendes das conjuras dos homens". Três coisas são necessárias para este sepulcro espiritual em Deus: que a alma pratique as virtudes, torne-se toda pura e branca e morra radicalmente para o mundo.Todas estas condições se encontram misticamente presentes na sepultura de Cristo.
1. A primeira encontramos em são Marcos (14, 8), no lugar em que se diz que Maria Madalena embalsamou com antecipação a sepultura de Jesus: o balsamo precioso de nardo significa as virtudes que possuem grande preço. Nada nesta vida é mais precioso que as virtudes. Por isso, a alma santa que quer ser embalsamada na divina contemplação, deve antes de mais nada receber o balsamo pelo exercício das virtudes. Assim dizia Jó (5, 26): "Entrarás, na maturidade, no sepulcro..." — a que acrescenta a Glosa: da divina contemplação — "...como um feixe de trigo colhido a seu tempo." — novamente a Glosa: porque o tempo da ação tem por recompensa a eterna contemplação; e é preciso que o perfeito exercite antes sua alma nas virtudes para guardá-la em seguida no celeiro do repouso.

2. A segunda encontramos também em são Marcos (15, 40), no lugar em que se diz que José comprou um sudário, pois o sudário é uma peça de linho, e o linho só se embranquece com muito trabalho. Daí vêm o simbolizar a candura da alma, à qual só conquistamos com muito trabalho. Lê-se no Apocalipse (22, 11), "aquele que é justo justifique-se mais; aquele que é santo, santifique-se mais". São Paulo dizia aos romanos (6, 4): "Nós fomos, pois, sepultados com ele, a fim de morrer pelo batismo, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma vida nova", progredindo do bem ao melhor, pela justiça da fé, na esperança da glória. Assim, devem os homens guardarem-se no sepulcro da divina contemplação pelo candor da pureza interior. Por isso, sobre aquilo da Escritura (Mt 5, 8): "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus", disse são Jerônimo: o Senhor, que é puro, é visto pelo coração puro.

3. A terceira encontramos em são João (19, 39), quando diz "Nicodemos, o que tinha ido primeiramente de noite ter com Jesus, foi também, levando uma composição de quase cem libras de mirra e de aloés". As cem libras de mirra e de aloés, pelas quais o corpo morto conserva-se sem se corromper, significam a mortificação perfeita dos sentidos exteriores, pela qual a alma, morta para o mundo, conserva-se sem se corromper pelos vícios; segundo esta palavra de são Paulo (2 Cor 4, 16): "embora se destrua em nós o homem exterior, todavia o homem interior vai-se renovando de dia para dia", ou seja, torna-se cada vez mais puro de vícios pelo fogo da tribulação. Por isso, a alma do homem deve, antes de mais nada, morrer para este mundo com Cristo e, sem seguido, ser sepultada com ele, no segredo da contemplação. São Paulo o dizia aos Colossenses (3, 3): "estais mortos para as coisas terrenas e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus".
De Humanitate Christi, cap. XLII
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 29  -  Não se esqueça de que Jesus quer se servir de você na sua situação atual.

terça-feira, 28 de março de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 28  -  Que você imite Jesus crucificado, que viva para Ele, a fim de ressuscitar com Ele para glória eterna.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XV

Palavras de Jesus na cruz

Jesus, porém, que faz, que diz, vendo-se o objeto de tantos ultrajes? Suplica por aqueles que assim o maltratam: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Jesus orou então também por nós, pecadores. Por isso, voltados para o Padre eterno, digamos com confiança: Ó Pai, ouvi a voz deste Filho querido que vos suplica que vos perdoeis. Um tal perdão é sem dúvida grande misericórdia com relação a nós, que não o merecíamos, mas com relação a Jesus Cristo, que nos satisfez superabundantemente por nossos pecados, é justiça. Vós estais obrigado por seus merecimentos a perdoar e a receber na vossa graça quem se arrepende das ofensas que vos fez. Eu me arrependo, ó meu Pai, de todo o meu coração, de vos haver ofendido e em nome desse vosso Filho os peço o perdão. Perdoai-me e recebei-me na vossa graça.

“Senhor, lembrai-vos de mim quando entrardes no vosso reino” (Lc 23,42). Assim foi que se dirigiu o bom ladrão a Jesus agonizante, que lhe respondeu: “Em verdade eu te afirmo, que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Assim se cumpriu o que Deus já havia dito por Ezequiel, que, quando um pecador se arrepende de suas culpas, Deus lhe perdoa e se esquece das ofensas que lhe foram feitas: “Se, porém, o ímpio fizer penitência... não me recordarei mais de todas as suas iniqüidades” (Ez 18,21). Ó caridade imensa, ó bondade infinita de meu Deus, quem deixará de vos amar? Sim, meu Jesus, esquecei-vos das injúrias que vos fiz e lembrai-vos da morte tão cruel que por mim sofrestes e por ela dai-me o vosso reino na outra vida e na presente fazei reinar em mim o vosso santo amor. Unicamente o vosso amor domine no meu coração e seja ele o meu único Senhor, meu único desejo, meu único amor. Feliz ladrão, que mereceste ser o companheiro paciente da morte de Jesus! Feliz de mim, ó meu Jesus, se tiver a sorte de morrer amando-vos e unindo a minha morte à vossa santa morte. “Estava, porém, ao pé da cruz de Jesus, sua Mãe” (Jo 19,25).

Considera, minha alma, ao pé da cruz, Maria, sua Mãe, traspassada de dores e com os olhos fixos no amado e inocente Filho, contemplando as crudelíssimas dores externas e internas no meio das quais ele morre. Ela está toda resignada e em paz, oferecendo ao eterno Pai a morte do Filho por nossa salvação. Mas muito a afligem a compaixão e o amor. Ó Deus, quem não se compadeceria de uma mãe que se encontrasse junto ao patíbulo do filho que lhe está morrendo diante dos olhos? E, então, se considerarmos quem seja essa Mãe e quem esse Filho! Maria amava esse Filho imensamente mais do que todas as mães amam a seus filhos. Ela amava Jesus por ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Deus: Filho sumamente amável, incomparavelmente belo e santo, Filho que lhe fora sempre respeitoso e obediente, Filho que tanto a amara e que desde a eternidade a escolhera por mãe. E essa mãe foi quem teve de ver morrer de dores um tal filho, diante de seus olhos, naquele lenho infame, sem poder procurar-lhe o menor alívio e até aumentando com sua presença o seu tormento, pois a via padecer assim por seu amor. Ó Maria, pelas dores que sofrestes na morte de Jesus, tende piedade de mim e recomendai-me a vosso Filho. Ouvi como ele, na pessoa de S. João, me recomenda a vós: “Mulher, eis aí teu Filho” (Jo 19,26).

“E perto da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes?” (Mt 27,46). Jesus agonizando na cruz, com o corpo estarrecido de dor e o espírito inundado de aflição (pois que aquela tristeza que o assaltou no horto o acompanhou até ao último suspiro de sua vida) procura alguém que o console, mas não encontra ninguém, como já o predissera Davi: “Esperei alguém que me consolasse e não o encontrei” (Sl 68,21). Olha para sua Mãe e esta não o consola, antes mais o aflige com sua presença. Olha em redor e vê que todos se mostram como seus inimigos. Vendo-se assim privado de todo o conforto, volta-se para seu eterno Pai a pedir-lhe alívio. Vendo-o, porém, o Pai coberto com todos os pecados dos homens, por quem ele estava na cruz a satisfazer sua justiça divina, também o abandona a uma morte de pura dor. E foi então que Jesus gritou, para exprimir a veemência de sua pena, dizendo: Meu Deus, por que até vós me abandonais? A morte de Jesus foi, pois, a morte mais atroz que a de todos os mártires, pois que foi uma morte inteiramente desolada e privada de todo o alívio. Mas, ó meu Jesus, se vos oferecestes espontaneamente a uma morte tão dura, por que então vos lamentais? Ah, eu vos compreendo, vós vos lamentais para nos fazer compreender a pena excessiva com que morreis e nos dar ao mesmo tempo ânimo para confiar e nos resignarmos no tempo em que nos virmos desolados e privados da assistência sensível da graça divina.

Meu doce Redentor, esse vosso abandono me faz esperar que Deus não me abandonará, apesar de tê-lo traído tantas vezes. Ó meu Jesus, como pude viver tanto tempo esquecido de vós? Agradeço-vos por vos não terdes esquecido de mim. Suplico-vos que me façais recordar sempre da morte cruel que sofrestes por meu amor, para que eu não me esqueça mais de vós e do amor que me consagraste. Sabendo, entretanto, o Salvador que seu sacrifício já estava consumado, disse que tinha sede e os soldados puseram-lhe nos lábios uma esponja embebida em vinagre: “Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir ainda a Escritura, disse: Tenho sede... Eles lhe chegaram à boca uma esponja ensopada em vinagre” (Jo 19,28). A Escritura que devia cumprir-se era a profecia de Davi: “E na minha sede me propinaram vinagre” (Sl 68,22). Mas, Senhor, vós vos queixais de tantas dores que vos arrebatam a vida, e vos lamentais da sede? Ah, a sede de Jesus era diferente da que passamos. A sede que ele tem é o desejo de ser amado pelas almas pelas quais morre. Logo, ó Jesus meu, vós tendes sede de mim, ver-me miserável, e eu não terei sede de vós, bem infinito? Ah, sim, eu vos quero, eu vos amo e desejo agradar-vos em tudo. Ajudai-me, Senhor, a expelir de meu coração todos os desejos terrenos e fazei que em mim reine o único desejo de agradar-vos e fazer a vossa vontade. Ó santa vontade de Deus, vós que sois a bela fonte que saciais as almas imortais, saciai-me também a sede o fito de todos os meus pensamentos e de todos os meus afetos.

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

35. Terça-feira depois do I domingo da Paixão: O Sepulcro de Cristo

terça-feira da I semana da Paixão

«Porque molestais esta mulher? Ela fez-me verdadeiramente uma boa obra... derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo como para me sepultar» (Mt 26, 10-12)
Era conveniente que Cristo fosse sepultado.
1. Primeiro, para comprovar a verdade da sua morte; pois, ninguém é posto num sepulcro senão quando consta que está verdadeiramente morto. Por isso no Evangelho (Mc 15, 44-45), se lê que Pilatos, antes de permitir que Cristo fosse sepultado, procurou saber por uma inquisição diligente, se estava morto.

2. Segundo, porque tendo ressurgido do sepulcro, deu a esperança de ressurgir, por meio dele, aos que estão sepultos, segundo aquilo do Evangelho (Jo 5, 28): "Todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus".

3. Terceiro, para exemplo dos que, pela morte de Cristo, morreram espiritualmente aos pecados, conforme aquilo da Escritura (Sl 30, 21): "Estão escondidos contra a turbação dos homens". Por isso diz o Apóstolo (Cl 3, 3): "Já estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". E assim também os batizados, que pela morte de Cristo morreram aos pecados, são como consepultos com Cristo, pela imersão, segundo o Apóstolo (Rm 6, 4): "Nós fomos sepultados com Cristo para morrer pelo batismo".
*
Assim como a morte de Cristo obrou eficientemente a nossa salvação, também a sua sepultura. Por isso diz Jerônimo: Ressurgimos pela sepultura de Cristo. E aquilo da Escritura (Is 53, 9): "E dará os ímpios pela sepultura", diz a Glosa: i. é, as gentes, que não tinham a piedade, da-los-á a Deus Padre, porque os ganhou pela sua morte.
*
De Cristo diz a Escritura (Sl 87, 6): "Chegou a ser homem como sem socorro, livre entre os mortos". Ora, Nosso Senhor mostrou que mesmo sepulto entre os mortos era livre, pelo fato da inclusão do sepulcro não ter podido impedi-lo de sair dele pela ressurreição.
IIIa q. LI a. 1
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

segunda-feira, 27 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

34. Segunda-feira depois do I domingo da Paixão: A Paixão de Cristo é remédio contra todos os pecados

segunda-feira da I semana da Paixão

A todos os males que contraímos pelo pecado, encontramos remédio na Paixão de Cristo. Contraímos pelo pecado cinco males:
O primeiro, é a própria mancha do pecado. Quando um homem peca, conspurca a sua alma, porque, como a virtude embeleza, o pecado a enfeia. Lê-se em Barruch: "Por que estás, ó Israel, na terra dos inimigos, e te contaminaste com os mortos?" (Br 3, 10). Mas a Paixão de Cristo lavou esta mancha. Cristo, na sua Paixão, fez do seu sangue um banho para nele lavar os pecadores: "Lava-os do pecado no
sangue" (Ap 1, 5). No Batismo a alma é lavada no Sangue de Cristo, por que este recebe do Sangue de Cristo a força regeneradora. Por isso, quando alguém batizado se macula pelo pecado, faz uma injúria a Cristo e o seu pecado é maior que o cometido antes do batismo. Lê-se na Carta aos Hebreus: "O que desprezou a lei de Moisés, após ouvido o testemunho de dois ou três, deve morrer" (Heb 10, 28-29). Como não deve merecer maiores suplícios, aquele que pisou no Sangue do Filho de Deus e considerou impuro o Sangue da Aliança?
O segundo mal que contraímos pelo pecado é nos tornarmos objeto da aversão de Deus. Assim como quem é carnal ama a beleza da carne, do mesmo modo Deus ama a beleza espiritual, que é a beleza da alma. Quando, por conseguinte, a alma se deixa contaminar pelo mal do pecado, Deus fica ofendido e odeia o pecador. Lê-se no Livro da Sabedoria: "Deus odeia o ímpio e a sua impiedade" (Sb 14, 9). Mas a Paixão de Cristo remove essas coisas, por que ela satisfez ao Pai ofendido pelo pecado, cuja satisfação
não poderia vir do homem. A caridade e a obediência de Cristo foram maiores que o pecado e a desobediência do primeiro homem.
O terceiro mal é a fraqueza. O homem, pecando pela primeira vez, pensa que depois pode abster-se do pecado. Acontece, porém, o contrário: debilita-se pelo primeiro pecado e fica inclinado a pecar mais. O pecado vai dominando cada vez mais o homem, e este, por si mesmo, coloca-se em tal estado que não pode mais se levantar. É como alguém que se lançou num poço. Só pode sair dele pela força divina. Depois que o homem pecou, a nossa natureza ficou debilitada, corrompida, e, por isso mesmo, ficou ele
mais inclinado para o pecado. Mas Cristo diminuiu essa fraqueza e debilidade, bem que não as tenha totalmente apagado. O homem foi fortalecido pela Paixão de Cristo e o pecado, enfraquecido, de sorte que este não mais o dominará. Pode, por esse motivo, auxiliado pela graça divina, que é conferida pelos sacramentos cuja eficácia recebem da Paixão de Cristo, esforçar-se para sair do pecado. Lê-se em S. Paulo: "O nosso velho homem foi crucificado juntamente com Ele, para que fosse destruído o corpo do pecado" (Rm 6, 6).Antes da Paixão de Cristo, poucos havia sem pecado mortal. Mas, depois dela, muitos viveram e vivem sem pecado mortal.
O quarto mal é a obrigação que temos de cumprir a pena do pecado. A justiça de Deus exige que o pecado seja punido, e a pena é medida pela culpa. Como a culpa do pecado é infinita, porque ela vai contra o bem infinito, Deus, cujo mandamento o pecador desprezou, também a pena devida ao pecado mortal é infinita. Mas Cristo pela sua Paixão livrou-nos dessa pena, assumindo-a Ele próprio. Confirma-o S. Pedro: "Os nossos pecados (i. é., a pena do pecado) Ele carregou no seu corpo" (1 Pd 2, 24). Foi de tal modo exuberante a virtude da Paixão de Cristo, que ela só foi suficiente para expirar todos os pecados de todos os homens, mesmo que fossem em número de milhões. Eis o motivo pelo qual aquele que foi batizado, foi também purificado de todos os pecados. É também por este motivo que os sacerdotes perdoam os pecados. Do mesmo modo, aquele cujo sofrimento mais se assemelha ao da Paixão de Cristo, consegue um maior perdão e merece maiores graças.
O quinto mal contraído pelo pecado foi nos termos tornados exilados do reino do céu. É natural que aqueles que ofendem o rei sejam obrigados a sair da pátria. O homem foi afastado do paraíso por causa do pecado: Adão imediatamente após o pecado foi expulso do paraíso, e sua porta lhe foi trancada. Mas Cristo, pela sua Paixão, abriu aquela porta e novamente chamou os exilados para o reino. Quando foi aberto o lado de Cristo, foi também a porta do paraíso aberta; quando o seu Sangue foi derramado, a mancha foi apagada, Deus foi aplacado, a fraqueza foi afastada, a pena foi expiada, e os exilados foram convocados para o reino. Por isso é que foi logo dito ao ladrão: "Estarás hoje comigo no Paraíso" (Lc. 23, 43). Observe-se que nesse momento não foi dito — outrora; que também não foi dito a outrem — nem a Adão, nem a Abraão, nem a David; foi dito, hoje, isto é, logo que a porta foi aberta, e o ladrão pediu e recebeu perdão. Lê-se na carta aos Hebreus: "Confiantes na entrada no santuário pelo Sangue de Cristo" (Heb. 10, 19). Fica assim esclarecido como a Paixão de Cristo foi útil, enquanto remédio contra o pecado.
In Symb.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XIV

Jesus é crucificado

Apenas chegou Jesus ao Calvário, consumido de dores e desfalecido, dão-lhe a beber vinho misturado com fel, o que se costumava dar aos condenados à cruz para mitigar-lhes um pouco o sentimento de dor. Jesus, que queria morrer sem alívio, apenas o provou, mas não bebeu: “E deram-lhe a beber vinho misturado com fel e, tendo ele experimentado, não quis bebê-lo” (Mt 27,34). Forma-se um círculo em torno de Jesus, os soldados tiram-lhe as vestes, que, estando pegadas a seu corpo todo chagado e retalhado, ao serem arrancadas levam consigo muitos pedaços de carne, atirando-o em seguida sobre a cruz. Jesus estende suas sagradas mãos e oferece ao eterno Pai o grande sacrifício de si mesmo e suplica-lhe que o aceite por nossa salvação.

Eis que já tomam com fúria os pregos e os martelos e, transpassando as mãos e os pés de nosso Salvador, pregam-no na cruz. O som das marteladas ressoa por todo aquele monte e se faz ouvir também por Maria, que, acompanhando o Filho, já havia também chegado. Ó mãos sagradas, que com vosso contacto sarastes tantos enfermos, por que vos atravessam nessa cruz? Ó pés sacrossantos, que tanto vos cansastes, correndo atrás de nós, ovelhas desgarradas, por que vos encravam com tantas dores? No corpo humano, apenas se atinge um nervo, é tão aguda a dor, que isso ocasiona desmaios e espasmos mortais. Qual, pois, terá sido o tormento de Jesus, ao lhe serem traspassadas com cravos as mãos e os pés, lugares cheios de ossos e nervos? Ó meu doce Salvador, quanto vos custou a minha salvação e o desejo de conquistar o amor de um verme miserável! E eu, ingrato, tantas vezes vos neguei o meu amor e voltei-vos as costas!

A um dado momento, levantam a cruz com o crucificado e fazem-na cair com violência no buraco cavado na rocha. É firmada com pedras e madeira e Jesus nela pregado fica suspenso entre dois ladrões, para aí findar a vida. “E o crucificaram e com ele dois outros, um de cada lado, e no meio Jesus” (Jo 19,18). Isaías já o havia predito: “Ele foi posto no número dos malfeitores” (Is 53,12). Na cruz estava afixada uma inscrição que dizia: “Jesus Nazareno, rei dos judeus”. Queriam os sacerdotes que se mudasse tal inscrição; Pilatos, porém, não quis mudá-la, porque Deus queria que todos soubessem que os hebreus deram a morte a seu verdadeiro rei e Messias por tanto tempo esperado e desejado por eles mesmos.

Jesus na cruz: eis a prova do amor de um Deus. Eis a última aparição que o Verbo encarnado faz nesta terra. A primeira foi num estábulo e esta última é numa cruz: tanto uma como a outra demonstram o amor e a caridade imensa que ele tem pelos homens. São Francisco de Paula, meditando um dia no amor de Jesus Cristo em sua morte, extasiado e levado acima da terra, exclamou três vezes em alta voz: Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Com isso o Senhor queria ensinar-nos por meio do santo que nós nunca seremos capazes de compreender o amor infinito que nos demonstrou esse Deus, querendo sofrer tanto e morrer por nós. Minha alma, chega-te humilhada e enternecida àquela cruz, beija ao mesmo tempo este altar em que morre o teu amável Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e faze que escorra sobre ti seu sangue divino e suplica o eterno Pai, mas em sentido diferente do que fizeram os judeus: Seu sangue caia sobre nós (Mt 27,25). Senhor, que esse sangue escorra sobre nós e nos lave de nossos pecados: este sangue não vos pede vingança, como pedia o sangue de Abel, mas vos pede perdão e misericórdia para nós. É o que o vosso Apóstolo me anima a esperar, quando diz: Vós, porém, vos aproximastes do Mediador do Novo Testamento, Jesus, e da aspersão do sangue que fala melhor que o de Abel (Hb 12,24).

Ó Deus, quando padece na cruz nosso Salvador moribundo! Cada membro está sofrendo e um não pode socorrer o outro, estando os pés e as mãos presos pelos cravos. A cada instante ele sofre dores mortais e assim pode-se dizer que naquelas três horas de agonia sofreu Jesus tantas mortes quantos os momentos que esteve pendente da cruz. Sobre esse leito não teve o Senhor um só momento de alívio ou repouso. Ora se apoiava sobre os pés, ora sobre as mãos, mas onde se apoiava crescia a dor. Aquele corpo sagrado estava suspenso sobre suas próprias chagas, pois as mãos e os pés cravados deviam sustentar o peso de todo o corpo.

Ó meu caro Redentor, se eu vos contemplo exteriormente, não vejo senão chagas e sangue; se observo vosso interior, vejo vosso coração todo aflito e desconsolado. Leio sobre essa cruz que vós sois rei, mas que insígnias tendes de realeza? eu não vejo outro trono a não ser esse lenho de opróbrio; não vejo outra púrpura a não ser vossa carne ensangüentada e dilacerada; não vejo outra coroa além desse feixe de espinhos que tanto vos atormenta. Ah, sim, tudo vos proclama rei, não de honra, mas de amor: essa cruz, esse sangue, esses cravos e essa coroa são incontestavelmente insígnias de amor. Assim Jesus na sua cruz não procura tanto a nossa compaixão, como o nosso afeto. E se pede compaixão, pede-a unicamente para que ela nos induza a amá-lo. Ele merece já por sua bondade todo o nosso amor, mas agora procura ser amado ao menos por compaixão. Ah, meu Jesus, tivestes muita razão de afirmar, antes da vossa paixão, que uma vez levantado na cruz, havíeis de atrair para vós todos os corações. “Quando eu for exaltado atrairei tudo para mim” (Jo 12,32). Oh! quantas setas de fogo enviais aos nossos corações desse trono de amor! Oh! quantas almas felizes atraístes a vós dessa cruz, livrando-as das fauces do inferno. Permiti-me, pois, dizer-vos: Com razão, Senhor, vos colocaram no meio de dois ladrões, pois vós com vosso amor haveis roubado a Lúcifer tantas almas que por justiça lhe per- tenciam por causa de seus pecados. E eu espero ser uma destas. Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, recebei-me no meio de vós, para me abrasar, não já no fogo do inferno por mim merecido, mas nas santas chagas de amor daquele Deus que por mim quis morrer consumido de tormentos.

Os carrascos, depois de haverem crucificado a Jesus, dividem entre si as suas vestes, segundo a profecia de Davi: “Repartiram entre si os meus vestidos e lançaram sorte sobre a minha túnica” (Sl 21,19) e, assentando-se todos, esperam por sua morte. Minha alma, assenta-te aos pés daquela cruz e debaixo de sua sombra de salvação repousa durante tua vida inteira, a fim de que possas dizer com a esposa sagrada: “Assentei-me à sombra daquele que eu tanto havia desejado” (Ct 2,3). Oh! que repouso encantador é o que encontram as almas amantes de Deus junto a Jesus crucificado, no meio dos tumultos do mundo, das tentações do inferno e dos temores dos juízos divinos!

Estando Jesus em agonia, com os membros doloridos e com o coração desolado e triste, procurava quem o consolasse. Mas, ó meu Redentor, não se encontra alguém que vos console? Se ao menos houvesse alguém que se compadecesse de vós e com lágrimas acompanhasse vossa agonia tão atroz! Mas, ó tristeza, vejo que uns vos injuriam, outros vos encarnecem, outros ainda blasfemam contra vós. Estes dizem: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). Aqueles: “Ó tu, que destróis o templo de Deus... salva-te a ti mesmo” (Mc 15,29-30). E outros: “Salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo” (Mt 27,42). Senhor, que condenado se viu jamais tão coberto de injúrias e opróbrios no momento de sua morte no patíbulo infame?

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 27  -  Nos momentos de desolação, levante sua voz ao Céu.

domingo, 26 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

33. Primeiro domingo da Paixão: A Paixão de Cristo

Primeiro domingo da Paixão

«E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do homem, a fim de que todo o que crê nele tenha a vida eterna.» (Jo 3, 14-15)
Aqui há três coisas que devemos considerar:
1. A figura da Paixão: "E como Moisés levantou no deserto a serpente". Ao povo judeu, que dizia: "a nossa alma está enfastiada deste alimento levíssimo" (Nm 21, 5), Deus, para lhes castigar, enviou serpentes. Em seguida, ordenou que fizessem uma serpente de bronze como remédio contra as serpentes e em figura da Paixão. É próprio da serpente possuir veneno, mas a serpente de bronze não era venenosa. Do mesmo modo, Cristo não tinha pecado, que é um veneno, mas assemelhou-se ao pecador, conforme esta palavra de são Paulo: "enviou Deus seu Filho em carne semelhante à do pecado" (Rm 8, 3). Por isso, Cristo produziu o efeito da serpente de bronze contra o ímpeto das concupiscências abrasadas.

2. O modo da Paixão: "importa que seja levantado o Filho do homem", o que se compreende do levantamento da cruz. Cristo quis morrer levantado:
a) Para purificar o céu. Pela santidade da sua vida, purificara já a terra, restava purificar o ar.
b) Para triunfar sobre o demônio, que prepara a guerra nos ares.
c) Para atrair nossos corações a si: "Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12, 32). Ao morrer na Cruz, foi exaltado, pois triunfou de seus inimigos, a ponto de sua morte ser chamada exaltação. Diz o Salmo: "Beberá da torrente no caminho, por isso levantará a sua cabeça" (Sl 109). E foi a cruz a causa de sua exaltação, como diz são Paulo: "Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou" (Fl 2, 8)

3. O fruto da Paixão. O fruto é a vida eterna. Por isso diz: a fim de que todo o que crê nele, e faça boas boas, não pereça, mas tenha a vida eterna". Este fruto corresponde ao fruto figurado da serpente de bronze. Com efeito, quem se voltasse para ela, curava-se do veneno e salvava sua vida. Volta-se para o Filho do Homem exaltado na cruz quem crê em Cristo crucificado e, assim, curando-se do veneno e do pecado, conserva-se para a vida eterna.
In Joan, III
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XIII

Jesus leva a cruz ao Calvário

Publicada a sentença, o povo infeliz explode num grito de júbilo e diz: Alegremo-nos, alegremo-nos. Jesus já foi condenado; não se perca tempo, apreste-se a cruz e que morra hoje mesmo, pois que amanhã é páscoa. E imediatamente o tomam, tiram-lhe aquele farrapo de púrpura, restituem-lhe suas vestes, para que fosse reconhecido pelo povo, segundo S. Ambrósio, por aquele impostor (como o chamavam) que dias antes tinha sido acolhido como o Messias: “Tiraram-lhe a clâmide e o revestiram com suas vestes e o conduziram para ser crucificado”. (Mt 27,31). Em seguida tomam duas traves grosseiras, e formam com ela às pressas uma cruz e, com insolência, mandam-lhe que a ponha sobre os ombros e a carregue até ao lugar do suplício. Ó Deus, que barbaridade, sobrecarregar com um tal peso um homem tão atormentado e desprovido de forças!

Jesus abraça a cruz com amor: “E, levando sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário” (Jo 19,17). A justiça sai com os condenados e entre esses vai também nosso Salvador, carregando o altar em que deve sacrificar a sua vida. Muito bem considera um piedoso autor que na paixão de Jesus Cristo foi tudo maravilhoso e excessivo como Moisés e Elias o afirmaram no Tabor: “E falavam de seu excesso, que iria realizar em Jerusalém” (Lc 9,31). Quem poderia jamais crer que a vista de Jesus, reduzido a uma só chaga da cabeça aos pés, irritasse ainda mais o furor dos judeus e o desejo de vê-lo crucificado? Que tirano obrigou jamais o próprio réu a levar sobre seus ombros o instrumento de seu tormento, vendo-o exausto e consumido já de dores? É horror considerar a multidão de tormentos e ludíbrios que fizeram Jesus sofrer no pequeno espaço de sua prisão até sua morte, sucedendo uns aos outros, sem intervalo, prisão, bofetadas, escarros, zombarias, flagelos, espinhos, cravos, agonia e morte. Todos se uniram, hebreus e gentios, sacerdotes e populares, para tornarem Jesus Cristo o homem dos desprezos e das dores, como havia predito o profeta Isaías. O juiz declara o Salvador inocente, mas uma tal declaração só serve para acarretar-lhe maiores sofrimentos e vitupérios, pois se logo no princípio tivesse Pilatos condenado Jesus à morte, não lhe teriam preferido Barrabás, nem teria sido tratado como louco, nem flagelado tão cruelmente, nem coroado de espinhos.

Mas voltemos a considerar o espetáculo admirável do Filho de Deus, que vai morrer por aqueles mesmos homens que o conduzem à morte. Eis realizada a profecia de Jeremias: “E eu sou semelhante ao manso cordeiro, que é levado para ser vitimado” (Jr 11,19). Ó cidade ingrata, assim expeles de ti com tão grande desprezo o teu Redentor, depois de receberes dele tantas graças? Ó Deus, é isso o que faz também uma alma que, depois de favorecida por Deus com tantos favores, ingrata, o expulsa pelo pecado.

A vista de Jesus nessa caminhada para o Calvário causava tal compaixão, que as mulheres ao vê-lo se punham a chorar e lamentar de tanta crueldade: “Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que choravam e o lamentavam” (Lc 23,27). O Redentor, porém, voltando-se para elas, diz-lhes: “Não choreis sobre mim, mas sobre vossos filhos. Porque se assim fazem com o lenho verde, que farão com o seco?” (Lc 23,27). O Redentor, porém, voltando-se para elas, diz-lhes: “Não choreis sobre mim, mas sobre vossos filhos. Porque se assim fazem com o lenho verde, que farão com o seco?” (Lc 23,31). Com isso queria dar a entender o grande castigo que merecem os nossos pecados, pois se ele, inocente e Filho de Deus, era assim tratado por se ter oferecido a satisfazer por nós, como deveriam ser tratados os homens por seus próprios pecados?

Contempla-o também tu, minha alma, vê como está todo dilacerado, coroado de espinhos, onerado com aquele pesado lenho e acompanhado por gente que lhe é contrária e que o segue injuriando-o e maldizendo-o. Ó Deus, seu corpo sagrado está todo retalhado, de tal maneira que a qualquer movimento que faz se renova a dor de todas as suas chagas. A cruz já agora o atormenta, pois ela comprime seus ombros chagados e vai encravando cada vez mais os espinhos daquela bárbara coroa! Que dores a cada passo! Jesus, porém, não a abandona. Sim, não a deixa porque por meio da cruz ele quer reinar nos corações dos homens. como predisse Isaías: “E foi posto o principado sobre o seu ombro” (Is 9,6). Ah, meu Jesus, com que sentimentos de amor para comigo vós caminháveis para o Calvário, onde devíeis consumar o grande sacrifício da vossa vida!

Minha alma, abraça também a tua cruz por amor de Jesus, que por teu amor padece tanto. Nota como ele vai adiante com sua cruz e te convida a segui-lo com a tua: “Quem quiser vir após mim, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Sim, meu Jesus, não quero deixar-vos, quero seguir-vos até à morte. Vós, porém, pelos merecimentos de vossa subida tão dolorosa ao Calvário, dai-me a força de levar com paciência as cruzes que me enviardes. Oh! vós tornastes muito amáveis as dores e desprezos, abraçando-os com tanto amor por nós.

“Encontraram um homem de Cirene, chamado Simão; obrigaram-no a carregar a cruz de Jesus”. (Mt 27,32). “E puseram-lhe a cruz par que a carregasse atrás de Jesus” (Lc 23,26). Foi isso talvez motivado pela compaixão, desvencilhar Jesus da cruz e fazê-la carregar pelo Cirineu? Não, foi só iniqüidade e ódio. Vendo os judeus que o Senhor quase exalava sua alma a cada passo que dava, temeram que antes de chegar ao Calvário expirasse no caminho, e porque eles o queriam ver morto, mas morto crucificado, para que sua memória ficasse para sempre denegrida, obrigaram o Cirineu a carregar-lhe a cruz. Era essa sua intenção, pois, para eles, morrer crucificado era o mesmo que morrer amaldiçoado por todos: “Amaldiçoado é o que pende da cruz” (Dt 21,23), dizia sua lei. Por isso, quando buscavam a morte de Jesus, não só pediam a Pilatos que o fizesse morrer, mas sempre instavam, gritando: Crucifica-o, seja crucificado! para que seu nome ficasse desprestigiado na terra e nem sequer fosse mais lembrado, conforme a profecia de Jeremias; “Exterminemo-lo da terra dos viventes e não haja mais memória de seu nome” (Jr 11,19). E foi essa a razão por que lhe tiravam a cruz dos ombros, para que chegasse vivo ao Calvário e assim tivessem o gosto de vê-lo morrer crucificado. Ah, meu Jesus desprezado, vós sois a minha esperança e todo o meu amor.

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 26  -  Nunca se deite antes de ter examinado a sua consciência, revendo todo o seu dia.

sábado, 25 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

32. Sábado depois do IV domingo da Quaresma: O modo mais conveniente para a liberação do gênero humano

Sábado depois do IV domingo da Quaresma

Tanto um meio é mais conveniente para conseguir um fim, quanto mais ele faz concorrerem elementos conducentes ao fim. Ora, o ser o homem liberado pela paixão de Cristo foi causa de concorrerem muitos elementos conducentes à salvação do mesmo, além da liberação do pecado.

1. Assim, primeiro, desse modo o homem conhece quanto Deus o ama; o que o excita a amá-lo mais, e nisso consiste a perfeição da salvação humana. Donde o dizer o Apóstolo: "Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque ainda quando éramos pecadores, morreu Cristo por nós" (Rm 5, 8).

2. Segundo, porque por esse meio nos deu o exemplo da obediência, da humildade, da constância, da justiça e das demais virtudes, reveladas na paixão de Cristo e que são necessárias à salvação humana. Por isso diz a Escritura (1 Pd 2, 21): "Cristo padeceu por nós, deixando-vos exemplo para que sigais as suas pisadas".

3. Terceiro, porque Cristo, com sua paixão, não somente liberou o homem do pecado, mas ainda lhe mereceu a graça justificante e a glória da beatitude.

4. Quarto, porque, assim, uma necessidade maior impôs ao homem conservar-se imune do pecado, segundo aquilo do Apóstolo (1 Cor 6, 20): "Porque vós fostes comprado por um grande preço; glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso corpo".

5. Quinto, porque contribuiu para maior dignidade do homem, de modo que assim como fora vencido e enganado pelo diabo, assim também fosse ele mesmo quem vencesse o diabo; e assim como o homem mereceu a morte, assim também, morrendo, a vencesse a ela, conforme o dizer do Apóstolo (1 Cor 15, 57): "Graças a Deus, que nos deu a vitória, por Jesus Cristo". Por isso foi mais conveniente que, pela paixão de Cristo fossemos liberados, do que pela só vontade de Deus.
IIIa q. XLVI, a. 3
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XII

Jesus é condenado por Pilatos

“Então ele lho entregou para que fosse crucificado” (Jo 19,16). Pilatos, depois de tantas vezes ter declarado a inocência de Jesus, e então novamente lavando suas mãos e protestando que era inocente do sangue daquele justo, sendo os judeus responsáveis por sua morte: “Mandado vir água, lavou as mãos à vista do povo, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste justo: vós lá vos avenhais” (Mt 27,24), assim mesmo dá a sentença e o condena à morte. Ó injustiça jamais vista no mundo! O juiz condena o acusado ao mesmo tempo que o declara inocente. S. Lucas escreve que Pilatos entregou Jesus nas mãos dos judeus para que fizessem com ele o que desejavam: “Entregou Jesus à sua vontade” (Lc 23,25). De fato, é o que acontece quando se condena um inocente: ele é abandonado nas mãos de seus inimigos, para que o façam morrer, e morrer da maneira que for do gosto deles. Infelizes judeus, vós dissestes: “Seu sangue caia sobre nós e nossos Filhos” (Mt 27,25), e assim chamastes sobre vós o castigo e este já vos alcançou: vossa nação já sofre e sofrerá o castigo desse sangue inocente até ao fim do mundo.

A injusta sentença de morte é lida diante do condenado. O Senhor a ouve e inteiramente resignado ao justo decreto de seu eterno Pai; que o condena à morte da cruz, não pelos delitos que lhe imputavam falsamente os judeus, mas por nossas culpas verdadeiras, pelas quais se oferecera a satisfazer com sua morte. Pilatos diz na terra: Morra Jesus, e o Padre eterno o confirma no céu, dizendo: Morra meu Filho. E o Filho diz também: Eis-me aqui; eu obedeço, aceito a morte e a morte da cruz. “Ele se humilhou, fazendo-se obediente até à morte e a morte de cruz” (Fl 2,8). Meu amado Redentor, aceitastes a morte que me era devida e com vossa morte me obtivestes a vida. Eu vos agradeço, meu amor, e espero poder louvar no céu as vossas misericórdias para sempre: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”. Visto que vós, inocente, aceitastes a morte da cruz, eu, pecador, aceito-a com todas as penas que a devem acompanhar e desde já a ofereço a vosso eterno Pai, unindo-a à vossa santa morte. Pelos merecimentos de vossa morte tão dolorosa, concedei-me, ó meu Jesus, a sorte de morrer em vossa graça e ardendo em vosso santo amor.

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 25  -  O caminho do Calvário é longo; o expirar na cruz é dolorosíssimo; mas o aleluia que a alma cantará será eterno!

sexta-feira, 24 de março de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 24  -  O sofrimento suportado de maneira cristã é a condição que Deus, autor de todas as graças e de todos os dons que conduzem à salvação, estabeleceu para conceder-nos a glória eterna.

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

31. Sexta-feira depois do IV domingo da Quaresma: O Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor

Sexta-feira da IV semana da Quaresma

I. — Pelo sangue de Cristo, foi selado o Novo Testamento. "Este cálice é o novo testamento no meu sangue" (1 Cor 11, 25).
Testamento compreende-se de dois modos:
- A palavra "testamento" é comumente utilizada para significar algum pacto. Assim, Deus fez por duas vezes pactos com o gênero humano. Na primeira vez, prometendo bens temporais e livrando-nos dos males temporais; e este pacto é chamado Antigo Testamento. Na segunda vez, prometendo bens espirituais e livrando-nos dos males contrários; e este pacto é chamado Novo Testamento. Tudo isso conforme as Escrituras: "Estão a chegar os dias, diz o Senhor, em que farei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, diferente da aliança que fiz com seus pais do Egito (...) Eis a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Imprimirei a minha lei no seu íntimo, escrevê-la-ei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo" (Jr 31, 33). Os antigos costumavam fundir o sangue de uma vítima para selar um pacto, Moisés tomou sangue e o aspergiu sobre o povo, dizendo: Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco. Assim, portanto, o antigo testamento ou pacto foi selado no sangue de touros; o Novo Testamento ou pacto, no sangue de Cristo, vertido em sua Paixão.
- A palavra "testamento" também é utilizada, de modo mais estrito, para significar a disposição de uma herança. Ora, o testamento, nesta acepção, não é recebido senão pela morte; pois, como diz são Paulo: "o testamento só produz seu efeito em caso de morte, não tendo força enquanto vive o testador" (Heb 9, 17). Deus inicialmente dispusera para uma herança eterna, mas, sob a figura dos bens temporais; o que constitui o Antigo Testamento. Mas, em seguida, fez um Novo Testamento, pelo qual prometeu expressamente a herança eterna; e este Testamento foi selado pelo sangue da morte de Cristo. E é por isso que disse o Senhor: "Este cálice é o Novo Testamento em meu sangue, que será derramado por vós" (Lc 22, 20); como para dizer: pelo conteúdo deste cálice, celebra-se o Novo Testamento, confirmado pelo sangue de Cristo.
In I Cor, XI

II. — Existem outras utilidades do sangue de Cristo.
1. Purifica-nos de nossos pecados e imundices: "nos amou e nos lavou dos nossos pecados no seu sangue" (Ap 1, 5).
2. Garante nossa redenção. "nos resgataste para Deus com o teu sangue" (Ap 5, 9).
3. Pacifica-nos com Deus e os anjos. "pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as coisas da terra como as coisas do céu" (Cl 1, 20).
4. Refrigera e inebria os que o tomam. "Bebei dele todos" (Mt 26, 28). E, noutra parte,"Levou-o às alturas da terra... e ele bebeu o mais puro sangue da uva" (Dt 32, 14).
5. Abriu as portas do céu. "Portanto, Irmãos, tendo nós confiança de entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Cristo" (Heb 10, 19), i. é, a oração contínua dirigida a Deus em nosso proveito; pois o sangue clama a cada dia por nós, como diz são Paulo: "Vós porém aproximaste-vos do monte de Sião e da cidade de Deus vivo... e da aspersão daquele sangue que fala melhor que o de Abel" (Heb 12, 24). O sangue de Abel clamou por vingança, o de Cristo, por perdão.
6. Libertou os santos do inferno, conforme aquilo das Escrituras: "Quanto a ti, também, por causa do sangue da tua aliança, farei sair os teus cativos da fossa em que não há água". (Zc 9, 11).
Serm. in Dom. de Passione
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO XI

Pilatos mostra Jesus ao povo, dizendo: Ecce Homo!

“Pilatos saiu para fora e disse-lhes: Ecce homo” (Jo 19,5). Tendo sido Jesus novamente conduzido a Pilatos, depois de sua flagelação e coroação de espinhos, este, mirando-o e observando como estava dilacerado e desfigurado, persuadiu-se de que o povo se moveria à compaixão só com vê-lo. Por isso saiu para fora no terraço, levando consigo nosso aflito Salvador, e disse: “Ecce Homo”, como se dissesse: judeus, contentai-vos com o que já padeceu este pobre inocente, eis o homem que temíeis fazer-se vosso rei, ei-lo, contemplai a que estado está reduzido. Que temor podeis ainda ter agora que se acha num estado que não pode mais viver? Deixai-o morrer em sua casa, desde que pouco lhe resta de vida. “E Jesus saiu, tendo uma coroa de espinhos e uma veste purpúrea” (Jo 19,15). Olha também, minha alma, para aquele terraço e vê teu Senhor amarrado e conduzido por um carrasco: vê como está meio nu, ainda que coberto de chagas e de sangue, com as carnes dilaceradas, com aquele pedaço de púrpura que lhe serve unicamente de ludíbrio e com aquela horrenda coroa que o atormenta sem cessar. Contempla a que foi reduzido teu pastor para te encontrar a ti, ovelha desgarradas. Ah, meu Jesus, sob quantos aspectos os homens vos fazem aparecer, mas todos são de dor e vitupério. Ah, doce Redentor, vós causais compaixão até às feras, só entre os homens não encontrais piedade. Pois eis aqui o que responde essa gente: “Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam dizendo: Crucifica-o, crucifica-o” (Jo 19,6). Mas que dirão eles no dia do juízo final, quando vos virem glorioso, sentado como juiz num trono de luz? Ó meu Jesus, também eu durante muito tempo exclamei: crucifica-o, crucifica-o, quando com os meus pecados vos ofendi. Agora, porém, me arrependo de todo o meu coração e vos amo acima de todos os bens, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos merecimentos de vossa paixão e fazei que naquele dia eu vos veja aplacado e não irritado contra mim.

Do terraço Pilatos mostra Jesus aos judeus e diz: “Ecce Homo”. Ao mesmo tempo o Padre eterno, do alto do céu, nos convida a contemplar Jesus Cristo naquele estado e diz também: “Ecce Homo”. Ó homens, este homem que vedes tão ferido e vilipendiado é meu Filho bem amado, que por vosso amor, e para pagar por vossos pecados sofre dessa maneira. Contemplai-o, agradecei-lhe e amai-o. Meu Deus e meu Pai, vós me dizeis que eu devo contemplar o vosso Filho; eu, porém, vos peço que vós o contempleis por mim; contemplai-o e por amor desse vosso Filho tende piedade de mim.

Vendo os judeus que Pilados, apesar de seus clamores, procurava dar liberdade a Jesus (Jo 19,12), pensaram em obrigá-lo a condenar o Salvador, afirmando que, se não o fizesse, seria declarado inimigo de César: “Os judeus, porém, clamavam dizendo: se soltares a este, não és amigo de César: todo o que se faz rei contradiz a César” (Jo 19,12). E de fato acertaram, porque Pilatos, temendo perder as boas graças de César, toma consigo a Jesus Cristo, assenta-se para dar a sentença e condená-lo: “Pilatos, tendo ouvido estas palavras, trouxe Jesus para fora e assentou-se no seu tribunal” (Jo 19,13). Atormentado, entretanto, pelos remorsos de sua consciência, sabendo que ia condenar um inocente, volta-se novamente para os judeus: “E disse-lhes: Eis o vosso rei”. Pois então hei de condenar o vosso rei? “Eles, porém, clamavam: Tira-o, tira-o, crucifica-o” (Jo 1,14 e 15). Replicaram os judeus mais enfurecidos que na primeira vez: Depressa, Pilatos, que nosso rei, que rei, que rei esse? tira-o, tira-o, retira-o de nossos olhos e faze-o morrer crucificado. Ah, meu Senhor, Verbo encarnado, viestes do céu à terra para conversar com os homens e para salvá-los e estes não podem mais nem sequer ver-vos entre eles e tanto se esforçam para dar-vos a morte e não mais vos ver. Pilatos ainda lhes resiste e replica: “Hei então de crucificar vosso rei? Os pontífices responderam: Não temos outro rei senão César” (Jo 19,15). Ah, meu adorável Jesus, eles não querem reconhecer-vos por seu Senhor e afirmam não ter outro rei senão César. Eu vos confesso por meu rei e Deus e protesto que não quero outro rei para meu coração senão vós, meu Redentor. Infeliz de mim, houve um tempo em que me deixei também dominar por minhas paixões e vos expulsei de minha alma, meu rei divino. Agora quero que só vós reineis nele, ordenai e ela vos obedecerá. Dir-vos-ei com S. Teresa: “Ó amante Jesus, que me amais acima do que eu posso compreender, fazei que minha alma vos sirva mais segundo o vosso gosto que o dela. Morra, pois, o meu eu e em mim viva um outro que não eu. Ele viva e me dê vida. Ele reine e eu seja escravo, não querendo minha alma outra liberdade”. Oh, feliz a alma que pode dizer em verdade: Meu Jesus, vós sois o meu único rei, meu único bem, meu único amor.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Meditações para a Quaresma - Santo Tomás de Aquino

30. Quinta-feira depois do IV domingo da Quaresma: A morte de Lázaro

Quinta-feira da IV semana da Quaresma

«Nosso amigo Lázaro dorme» (Jo 11, 11)
I. Chamamos alguém de "Nosso amigo", por causa dos numerosos benefícios e serviços que nos prestou; é por isso que não devemos faltar-lhe na necessidade. "...Lázaro dorme": essa a razão de precisarmos socorrê-lo. "Aquele que é amigo... torna-se um irmão no tempo da desventura" (Pr 17, 17). No dizer de santo Agostinho, ele dorme para o Senhor; para os homens, que não o podem ressuscitar, está morto. A palavra sono pode ser utilizada para significar muitas coisas: o próprio sono natural, as negligências, o sono da culpa, o repouso da contemplação ou da glória futura e, por vezes, a morte, como diz são Paulo, "não queremos, irmãos, que estais na ignorância acerca dos que dormem, para que não vos entristeçais como os outros, que não têm esperança" (1 Ts 4, 13). A morte é chamada de sono por causa da esperança da ressurreição. Por isso costuma-se chamá-la de "repouso" desde o tempo em que Nosso Senhor morreu e ressuscitou: "Deitei-me e adormeci" (Sl 3, 6).

II. "mas vou despertá-lo." Com isso, Jesus dá a entender que lhe é tão fácil ressuscitar Lázaro do túmulo quanto despertar alguém da cama. Nada que possa surpreender, pois é Ele quem suscita os mortos e os vivifica. Por isso disse: "Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros escutarão a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

III. "vamos ter com ele". Brilha aqui a clemência de Deus, enquanto os homens, em estado de pecado e como mortos, não podem por si mesmos ir até Ele, é Ele quem os atrai, precedendo-lhes misericordiosamente, como aquilo das Escrituras: "Eu amei-te com amor eterno; por isso, mantive o meu favor para contigo" (Jr 31, 3).

IV. "Chegou, pois, Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro." Segundo santo Agostinho, Lázaro, morto há quatro dias, significa o pecador retido pela morte de um pecado quádruplo: o pecado original, o pecado contra a lei natural, o pecado atual contra a lei positiva, o pecado atual contra a lei do Evangelho e da graça. Ou então, pode-se dizer que o primeiro dia é o pecado do coração, cf. "tirai de diante dos meus olhos a malícia dos vossos pensamentos" (Is 1, 16); o segundo, o pecado da língua,"Nenhuma palavra má saia da vossa boca" (Ef 4, 19); o terceiro, o pecado das obras, sobre o qual diz Isaías, "cessai de fazer o mal" (Is 1, 16); o quarto dia é o pecado dos hábitos maus. De qualquer modo que se exponha o texto, o Senhor cura por vezes os mortos de quatro dias, isto é, os que transgridem a lei do Evangelho e estão presos no hábito do pecado.
In Joan, XI
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Sto. Afonso Maria de Ligorio

CAPÍTULO X

Jesus é coroado de espinhos e tratado como rei de teatro

Então os soldados do governador, conduzindo Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a corte. E despindo-o cingiram-lhe um manto carmesim e tecendo uma coroa de espinhos lha puseram sobre a cabeça e na sua mão direita uma cana” (Mt 27,27-29). Continuemos a considerar os bárbaros tormentos que os soldados fizeram nosso amabilíssimo Senhor sofrer. Reunindo toda a corte, colocam-lhe sobre os ombros uma clâmide purpúrea (era um manto velho que os soldados usavam por cima das armas) como manto real, nas mãos uma cana figurando o cetro e na cabeça um feixe de espinhos, parodiando a coroa, mas que, como um capacete, lhe cingia toda a cabeça. E já que os espinhos com a só colocação não entravam na cabeça já tão atormentada pelos golpes dos azorragues, servem-se da cana e, cuspindo-lhe ao mesmo tempo no rosto, cravam-lhe na cabeça com toda a força a tão cruel coroa: “E cuspindo- lhe tomavam a cana e lhe batiam na cabeça” (Mt 27,30).

Ó espinhos, ó criaturas ingratas, que fazeis? assim atormentais o vosso Criador? Por que, porém, invectivar os espinhos? Ó pensamentos iníquos dos homens, fostes vós que atravessastes a cabeça de meu Redentor. Sim, meu Jesus, nós com nossos consentimentos perversos tecemos a vossa coroa de espinhos. Agora eu os detesto e os odeio mais do que a morte ou outro mal qualquer. E a vós me volto novamente, humilhado, ó espinhos, consagrados pelo sangue do Filho de Deus, transpassai a minha alma e fazei-a sentir sempre a dor de ter ofendido um Deus tão bom. E vós, Jesus, meu amor, que tanto padeceis para me desprender das criaturas e de mim mesmo, fazei que eu possa dizer em verdade que não sou mais meu, mas só de vós e todo vosso. Ó meu Salvador afligido, ó Rei do mundo, a que vos vejo reduzido? a representar o papel de rei de teatro e dor: a ser o ludíbrio de toda a Jerusalém! O sangue ocorre a fluxo da cabeça transpassada do Senhor, sobre sua face e seu peito. Ó meu Jesus, eu admiro a crueldade dessa gente que não se satisfaz com vos ter esfolado dos pés até à cabeça, e agora vos atormenta com novos ultrajes e desprezos; admiro, porém, mais a vossa mansidão e o vosso amor, que tudo sofre e aceita por nós com tanta paciência. “Que injuriado não injuriava, recebendo maus tratos não fazia sequer ameaças, porém se entregava àquele que o julgava injustamente” (1Pd 2,23). Devia realizar-se a predição do profeta de que nosso Salvador devia ser saciado de dores e ignomínias: “Oferecerá a face ao que o ferir, fartar-se-á de opróbrios” (Lm 3,30).

Mas vós, soldados, não estais ainda satisfeitos? “E dobrando o joelho diante dele, motejavam dele dizendo: Eu te saúdo, rei dos judeus, e davam-lhe bofetadas” (Jo 19,3). Depois de tê-lo atormentado dessa forma e vestido como rei de teatro, ajoelhavam diante dele e o escarneciam dizendo: Nós te saudamos, ó rei dos judeus, e levantando-se com risos e escárnios, davam-lhe bofetadas. Ó Deus! a cabeça sagrada de Jesus já estava toda dolorida pelas feridas feitas pelos espinhos e por isso qualquer movimento lhe causava dores mortais e toda bofetada ou pancada lhe causava um sofrimento horrendo. Ao menos tu, minha alma, reconhece-o como supremo Senhor de tudo, como ele é em verdade, e agradece-lhe e ama-o como verdadeiro rei de dor e de amor, pois é para esse fim que ele padece e sofre por ti.

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 23  -  Olhemos primeiro para o alto e depois para nós mesmos. A infinita distância entre o azul e o abismo gera humildade.

quarta-feira, 22 de março de 2023

Padre Pio - Frases para cada dia do ano

Dia 22  -  Parece-me inconcebível que qualquer pessoa que tenha inteligência e consciência possa se vangloriar.